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sábado, 19 de janeiro de 2013

Pedofilia


ÉPOCA encontra em Salvador o americano processado nos EUA e condenado na Holanda por abuso de crianças. Ele é considerado chefe de uma rede internacional de pornografia infantil e pedofilia  
Luludi/ÉPOCA
POLÍCIA AVISADA
ÉPOCA informou às autoridades o conteúdo desta reportagem. O chefe da Interpol no Brasil, Washington Melo, e o superin-tendente da PF na Bahia, José Roberto Alves dos Santos, organi-zaram uma operação que seria deflagrada na manhã deste sábado, dia 8
O americano alto, magro e meio careca poderia passar por mais um gringo encantado com as belezas da Bahia. Bem-humorado, circula por Salvador de camiseta, bermuda e chinelo de dedo. Fala um português trôpego, mas suficiente para se virar em táxis, hotéis e restaurantes. Às vezes é visto com máquina fotográfica a tiracolo. É o turista típico. Lawrence Allen Stanley, porém, está no Brasil a trabalho. De seu escritório no centro da cidade, ele controla uma rede internacional de pornografia infantil. Stanley produz, edita e comercializa pela internet um tipo de material que dá cadeia em diversos países: fotos de crianças nuas, algumas com olhares e poses que pretendem sugerir sensualidade. Vídeos, DVDs e revistas eróticas com meninas e meninos. Livros que defendem uma espécie de ideário pedófilo, segundo o qual o contato sexual entre crianças e adultos é legítimo e pode ser saudável – danosa é a forma "histérica" como a sociedade tem reagido a isso.
Stanley também divulga atrações que interessam a seu público, como o pacote "Férias no Camboja". Segundo informa, naquele país é possível fazer sexo com meninas de menos de 13 anos por apenas US$ 5. É exatamente esta a faixa etária das modelos que Stanley fotografa na Bahia, dos 6 aos 13 anos. Por suas atividades, é procurado pela Interpol, a polícia internacional. Há contra ele um pedido de extradição do governo da Holanda, onde foi condenado por atentado violento ao pudor e abuso sexual de três crianças de 7 a 10 anos. Nos Estados Unidos, foi processado pela Justiça Federal por posse e distribuição de pornografia infantil.
Stanley é advogado, tem 47 anos e chegou ao Brasil em 19 de abril de 1998. Desembarcou em São Paulo, vindo de Nova York, e em seguida foi para Salvador.Viveu por dois anos num flat no Farol da Barra, gostou da cidade e decidiu instalar-se nela definitivamente. Hoje, mora num apartamento no bairro de classe média da Pituba, a três quarteirões da praia, e mantém um estúdio na Praça Castro Alves, no centro. Seu visto de estrangeiro residente no Brasil expira em 3 de dezembro.
Pela natureza de seus empreendimentos, Stanley toma certas precauções. Não tem amigos e praticamente se relaciona apenas com a namorada - uma professora de português – e um taxista que faz as vezes de motorista particular. Em Salvador, Stanley fotografa meninas pobres e de classe média baixa com a promessa de que um dia poderão tornar-se modelos. Elas recebem de R$ 50 a R$ 200. Sem fazer idéia de onde as fotos vão parar, os pais assinam autorizações.
ÉPOCA localizou o advogado americano após uma investigação de quase quatro meses. Depois de constatar que ele é o dono, coordenador e colaborador de uma série de marcas e sites de pornografia infantil, a reportagem descobriu que Stanley é também autor de uma edição pirata do livro Anjos Proibidos, que o fotógrafo brasileiro Fábio Cabral produziu há dez anos, com nus adolescentes. Stanley reimprimiu e vendeu o livro nos Estados Unidos por meio de sua editora, a Ophelia Editions, sem autorização do fotógrafo ou das modelos. Recentemente, procurou Cabral para tentar um acordo e evitar um processo. Ofereceu US$ 3 mil. Aproveitou a oportunidade para propor um negócio. "Por telefone, perguntou se eu tinha interesse em produzir fotos digitais de meninas para um site", diz Cabral. "Falou que é um trabalho lucrativo e que eu poderia ganhar até US$ 1.500 com cada menina, por um lote de 300 fotos." Autorizado por Cabral, o repórter Tiago Cordeiro, correspondente de ÉPOCA em Salvador, se fez passar por seu assistente e conversou com Stanley.
 
O RASTRO DE STANLEY
As operações globais do chefe de uma rede de pornografia infantil
Holanda – O advogado fugiu para não ser preso por abuso de crianças
Alemanha – Em Coswig fica a empresa de informática que Stanley contrata para redirecionar seus sites e, assim, dificultar o rastreamento das informações
Charlotte – Aqui ficam os computadores do principal site pornográfico de Lawrence Stanley
Nova York – Acusado de pornografia infantil, Stanley saiu do país. Mas a sede de sua empresa e sua caixa postal permanecem ali
Salvador – Atual base de operações do americano, depois de fugir dos EUA e da Holanda
O principal site que Stanley dirige, sob o pseudônimo de Stanaman, é na prática um portal de pedofilia, o Alessandra's Smile (Sorriso de Alessandra). Ali o internauta é convidado a comprar material pornográfico e visitar outros endereços, alguns controlados pelo próprio Stanley. A oferta é enorme. Há sites de modelos infantis, de sexo entre meninos e homens adultos, de contos eróticos com crianças, de lolitas e até de sexo explícito. Conhecedor de leis, o advogado sabe como driblar a Justiça de vários países. No Brasil, por exemplo, nu frontal de crianças é considerado crime. Por isso ele só fotografa meninas brasileiras de biquíni ou topless. Já a série com dicas de turismo sexual no Camboja, com meninas completamente nuas, não lhe rende processo na Ásia, mas no Brasil se enquadra perfeitamente na definição de pornografia. No entanto, nenhum juiz brasileiro pode tirar essas imagens da internet, por uma questão de jurisdição. A propriedade dos sites está registrada em outros países, e os servidores que os hospedam ficam nos Estados Unidos e na Alemanha. Além disso, todo o conteúdo passa por um redirecionador, o que dificulta o rastreamento da origem das informações.
"No caso de sites estrangeiros, só podemos agir se as vítimas forem brasileiras e puderem ser identificadas", explica Marcus Drucker Brandão, criador da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática no Rio de Janeiro. Identificar uma criança sem saber sequer em que cidade mora é uma tarefa dificílima. Outro problema diz respeito ao próprio conceito de pornografia. A foto de uma menina de biquíni no álbum dos pais é uma coisa. Essa mesma foto dividindo a tela do computador com desenhos de garotas sendo estupradas certamente passa a ter outro significado. De todo modo, o responsável pelo site sempre pode alegar que não há conexão entre as imagens e que a foto em questão não é de maneira alguma pornográfica. "Pela atual legislação, botar um sujeito desses na cadeia é quase impossível", diz o deputado Hélio de Oliveira Santos (PDT-SP), autor de um dos projetos que tramitam no Congresso Nacional com propostas de endurecimento da lei.
Stanley sabe que está protegido pela legislação local e segue atuando na Bahia. No fim do mês passado, voltou de uma viagem à Praia de Guarajuba, a 70 quilômetros de Salvador, com um novo lote de fotos de crianças. No mesmo dia seus sites exibiam imagens de mais de 50 meninas brasileiras, na série batizada de "Morena Park". Ele costuma fugir da discussão sobre pedofilia. "Se você fosse uma modelo infantil, ia querer que algum moralista rotulasse suas fotos de pornografia? Acho que não", disse Stanley a ÉPOCA, em entrevista por e-mail. "Todo mundo quer ser modelo. Posar para as fotos já é um fim em si, glamouroso, divertido." O fato de Stanley ter escolhido o Brasil para montar sua base é um alerta: caso não promova mudanças em sua legislação, o país pode tornar-se um dos centros mundiais de pedofilia na internet. Stanley provavelmente só será punido porque contra ele há um pedido de extradição do governo holandês, em análise no Supremo Tribunal Federal, em Brasília.
COM ANDREI MEIRELES, DE BRASÍLIA

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