ÉPOCA 
                 encontra em 
                 Salvador o 
                 americano 
                 processado 
                 nos EUA e 
                 condenado na 
                 Holanda por 
                 abuso de 
                 crianças. 
                 Ele é 
                 considerado 
                 chefe de uma 
                 rede 
                 internacional 
                 de 
                 pornografia 
                 infantil e 
                 pedofilia  
                  
                   | 
                   Luludi/ÉPOCA | 
                   | 
 | 
                   | 
                   
                   POLÍCIA 
                   AVISADAÉPOCA 
                   informou 
                   às 
                   autoridades 
                   o 
                   conteúdo 
                   desta 
                   reportagem. 
                   O 
                   chefe 
                   da 
                   Interpol 
                   no 
                   Brasil, 
                   Washington 
                   Melo, 
                   e o 
                   superin-tendente 
                   da 
                   PF 
                   na 
                   Bahia, 
                   José 
                   Roberto 
                   Alves 
                   dos 
                   Santos, 
                   organi-zaram 
                   uma 
                   operação 
                   que 
                   seria 
                   deflagrada 
                   na 
                   manhã 
                   deste 
                   sábado, 
                   dia 
                   8
 | 
                 O americano 
                 alto, magro 
                 e meio 
                 careca 
                 poderia 
                 passar por 
                 mais um 
                 gringo 
                 encantado 
                 com as 
                 belezas da 
                 Bahia. 
                 Bem-humorado, 
                 circula por 
                 Salvador de 
                 camiseta, 
                 bermuda e 
                 chinelo de 
                 dedo. Fala 
                 um português 
                 trôpego, mas 
                 suficiente 
                 para se 
                 virar em 
                 táxis, 
                 hotéis e 
                 restaurantes. 
                 Às vezes é 
                 visto com 
                 máquina 
                 fotográfica 
                 a tiracolo. 
                 É o turista 
                 típico. 
                 Lawrence 
                 Allen 
                 Stanley, 
                 porém, está 
                 no Brasil a 
                 trabalho. De 
                 seu 
                 escritório 
                 no centro da 
                 cidade, ele 
                 controla uma 
                 rede 
                 internacional 
                 de 
                 pornografia 
                 infantil. 
                 Stanley 
                 produz, 
                 edita e 
                 comercializa 
                 pela 
                 internet um 
                 tipo de 
                 material que 
                 dá cadeia em 
                 diversos 
                 países: 
                 fotos de 
                 crianças 
                 nuas, 
                 algumas com 
                 olhares e 
                 poses que 
                 pretendem 
                 sugerir 
                 sensualidade. 
                 Vídeos, DVDs 
                 e revistas 
                 eróticas com 
                 meninas e 
                 meninos. 
                 Livros que 
                 defendem uma 
                 espécie de 
                 ideário 
                 pedófilo, 
                 segundo o 
                 qual o 
                 contato 
                 sexual entre 
                 crianças e 
                 adultos é 
                 legítimo e 
                 pode ser 
                 saudável – 
                 danosa é a 
                 forma 
                 "histérica" 
                 como a 
                 sociedade 
                 tem reagido 
                 a isso.
                 
                 Stanley 
                 também 
                 divulga 
                 atrações que 
                 interessam a 
                 seu público, 
                 como o 
                 pacote 
                 "Férias no 
                 Camboja". 
                 Segundo 
                 informa, 
                 naquele país 
                 é possível 
                 fazer sexo 
                 com meninas 
                 de menos de 
                 13 anos por 
                 apenas US$ 
                 5. É 
                 exatamente 
                 esta a faixa 
                 etária das 
                 modelos que 
                 Stanley 
                 fotografa na 
                 Bahia, dos 6 
                 aos 13 anos. 
                 Por suas 
                 atividades, 
                 é procurado 
                 pela 
                 Interpol, a 
                 polícia 
                 internacional. 
                 Há contra 
                 ele um 
                 pedido de 
                 extradição 
                 do governo 
                 da Holanda, 
                 onde foi 
                 condenado 
                 por atentado 
                 violento ao 
                 pudor e 
                 abuso sexual 
                 de três 
                 crianças de 
                 7 a 10 anos. 
                 Nos Estados 
                 Unidos, foi 
                 processado 
                 pela Justiça 
                 Federal por 
                 posse e 
                 distribuição 
                 de 
                 pornografia 
                 infantil.
                 
                 Stanley é 
                 advogado, 
                 tem 47 anos 
                 e chegou ao 
                 Brasil em 19 
                 de abril de 
                 1998. 
                 Desembarcou 
                 em São 
                 Paulo, vindo 
                 de Nova 
                 York, e em 
                 seguida foi 
                 para 
                 Salvador.Viveu 
                 por dois 
                 anos num 
                 flat no 
                 Farol da 
                 Barra, 
                 gostou da 
                 cidade e 
                 decidiu 
                 instalar-se 
                 nela 
                 definitivamente. 
                 Hoje, mora 
                 num 
                 apartamento 
                 no bairro de 
                 classe média 
                 da Pituba, a 
                 três 
                 quarteirões 
                 da praia, e 
                 mantém um 
                 estúdio na 
                 Praça Castro 
                 Alves, no 
                 centro. Seu 
                 visto de 
                 estrangeiro 
                 residente no 
                 Brasil 
                 expira em 3 
                 de dezembro.
                 
                 Pela 
                 natureza de 
                 seus 
                 empreendimentos, 
                 Stanley toma 
                 certas 
                 precauções. 
                 Não tem 
                 amigos e 
                 praticamente 
                 se relaciona 
                 apenas com a 
                 namorada - 
                 uma 
                 professora 
                 de português 
                 – e um 
                 taxista que 
                 faz as vezes 
                 de motorista 
                 particular. 
                 Em Salvador, 
                 Stanley 
                 fotografa 
                 meninas 
                 pobres e de 
                 classe média 
                 baixa com a 
                 promessa de 
                 que um dia 
                 poderão 
                 tornar-se 
                 modelos. 
                 Elas recebem 
                 de R$ 50 a 
                 R$ 200. Sem 
                 fazer idéia 
                 de onde as 
                 fotos vão 
                 parar, os 
                 pais assinam 
                 autorizações.
                 
                 ÉPOCA 
                 localizou o 
                 advogado 
                 americano 
                 após uma 
                 investigação 
                 de quase 
                 quatro 
                 meses. 
                 Depois de 
                 constatar 
                 que ele é o 
                 dono, 
                 coordenador 
                 e 
                 colaborador 
                 de uma série 
                 de marcas e 
                 sites de 
                 pornografia 
                 infantil, a 
                 reportagem 
                 descobriu 
                 que Stanley 
                 é também 
                 autor de uma 
                 edição 
                 pirata do 
                 livro 
                 Anjos 
                 Proibidos, 
                 que o 
                 fotógrafo 
                 brasileiro 
                 Fábio Cabral 
                 produziu há 
                 dez anos, 
                 com nus 
                 adolescentes. 
                 Stanley 
                 reimprimiu e 
                 vendeu o 
                 livro nos 
                 Estados 
                 Unidos por 
                 meio de sua 
                 editora, a 
                 Ophelia 
                 Editions, 
                 sem 
                 autorização 
                 do fotógrafo 
                 ou das 
                 modelos. 
                 Recentemente, 
                 procurou 
                 Cabral para 
                 tentar um 
                 acordo e 
                 evitar um 
                 processo. 
                 Ofereceu US$ 
                 3 mil. 
                 Aproveitou a 
                 oportunidade 
                 para propor 
                 um negócio. 
                 "Por 
                 telefone, 
                 perguntou se 
                 eu tinha 
                 interesse em 
                 produzir 
                 fotos 
                 digitais de 
                 meninas para 
                 um site", 
                 diz Cabral. 
                 "Falou que é 
                 um trabalho 
                 lucrativo e 
                 que eu 
                 poderia 
                 ganhar até 
                 US$ 1.500 
                 com cada 
                 menina, por 
                 um lote de 
                 300 fotos." 
                 Autorizado 
                 por Cabral, 
                 o repórter 
                 Tiago 
                 Cordeiro, 
                 correspondente 
                 de ÉPOCA em 
                 Salvador, se 
                 fez passar 
                 por seu 
                 assistente e 
                 conversou 
                 com Stanley.
                 
                   
                 
                   
                    | 
                     
                      | 
O RASTRO DE STANLEY As operações globais do chefe de uma rede de pornografia infantil
 |  
                      | 
                        
                         | 
Holanda – O advogado fugiu para não ser preso por abuso de crianças  
Alemanha – Em Coswig fica a empresa de informática que Stanley contrata para redirecionar seus sites e, assim, dificultar o rastreamento das informações  
Charlotte – Aqui ficam os computadores do principal site pornográfico de Lawrence Stanley  
Nova York – Acusado de pornografia infantil, Stanley saiu do país. Mas a sede de sua empresa e sua caixa postal permanecem ali  
Salvador – Atual base de operações do americano, depois de fugir dos EUA e da Holanda  |  |  | 
 
                 O 
                 principal 
                 site que 
                 Stanley 
                 dirige, 
                 sob o 
                 pseudônimo 
                 de Stanaman, 
                 é na prática 
                 um portal de 
                 pedofilia, o 
                 Alessandra's 
                 Smile 
                 (Sorriso de 
                 Alessandra). 
                 Ali o 
                 internauta é 
                 convidado a 
                 comprar 
                 material 
                 pornográfico 
                 e visitar 
                 outros 
                 endereços, 
                 alguns 
                 controlados 
                 pelo próprio 
                 Stanley. A 
                 oferta é 
                 enorme. Há 
                 sites de 
                 modelos 
                 infantis, de 
                 sexo entre 
                 meninos e 
                 homens 
                 adultos, de 
                 contos 
                 eróticos com 
                 crianças, de 
                 lolitas e 
                 até de sexo 
                 explícito. 
                 Conhecedor 
                 de leis, o 
                 advogado 
                 sabe como 
                 driblar a 
                 Justiça de 
                 vários 
                 países. No 
                 Brasil, por 
                 exemplo, nu 
                 frontal de 
                 crianças é 
                 considerado 
                 crime. Por 
                 isso ele só 
                 fotografa 
                 meninas 
                 brasileiras 
                 de biquíni 
                 ou topless. 
                 Já a série 
                 com dicas de 
                 turismo 
                 sexual no 
                 Camboja, com 
                 meninas 
                 completamente 
                 nuas, não 
                 lhe rende 
                 processo na 
                 Ásia, mas no 
                 Brasil se 
                 enquadra 
                 perfeitamente 
                 na definição 
                 de 
                 pornografia. 
                 No entanto, 
                 nenhum juiz 
                 brasileiro 
                 pode tirar 
                 essas 
                 imagens da 
                 internet, 
                 por uma 
                 questão de 
                 jurisdição. 
                 A 
                 propriedade 
                 dos sites 
                 está 
                 registrada 
                 em outros 
                 países, e os 
                 servidores 
                 que os 
                 hospedam 
                 ficam nos 
                 Estados 
                 Unidos e na 
                 Alemanha. 
                 Além disso, 
                 todo o 
                 conteúdo 
                 passa por um 
                 redirecionador, 
                 o que 
                 dificulta o 
                 rastreamento 
                 da origem 
                 das 
                 informações.
                 
                 "No caso de 
                 sites 
                 estrangeiros, 
                 só podemos 
                 agir se as 
                 vítimas 
                 forem 
                 brasileiras 
                 e puderem 
                 ser 
                 identificadas", 
                 explica 
                 Marcus 
                 Drucker 
                 Brandão, 
                 criador da 
                 Delegacia de 
                 Repressão 
                 aos Crimes 
                 de 
                 Informática 
                 no Rio de 
                 Janeiro. 
                 Identificar 
                 uma criança 
                 sem saber 
                 sequer em 
                 que cidade 
                 mora é uma 
                 tarefa 
                 dificílima. 
                 Outro 
                 problema diz 
                 respeito ao 
                 próprio 
                 conceito de 
                 pornografia. 
                 A foto de 
                 uma menina 
                 de biquíni 
                 no álbum dos 
                 pais é uma 
                 coisa. Essa 
                 mesma foto 
                 dividindo a 
                 tela do 
                 computador 
                 com desenhos 
                 de garotas 
                 sendo 
                 estupradas 
                 certamente 
                 passa a ter 
                 outro 
                 significado. 
                 De todo 
                 modo, o 
                 responsável 
                 pelo site 
                 sempre pode 
                 alegar que 
                 não há 
                 conexão 
                 entre as 
                 imagens e 
                 que a foto 
                 em questão 
                 não é de 
                 maneira 
                 alguma 
                 pornográfica. 
                 "Pela atual 
                 legislação, 
                 botar um 
                 sujeito 
                 desses na 
                 cadeia é 
                 quase 
                 impossível", 
                 diz o 
                 deputado 
                 Hélio de 
                 Oliveira 
                 Santos 
                 (PDT-SP), 
                 autor de um 
                 dos projetos 
                 que tramitam 
                 no Congresso 
                 Nacional com 
                 propostas de 
                 endurecimento 
                 da lei.
                 
                 Stanley sabe 
                 que está 
                 protegido 
                 pela 
                 legislação 
                 local e 
                 segue 
                 atuando na 
                 Bahia. No 
                 fim do mês 
                 passado, 
                 voltou de 
                 uma viagem à 
                 Praia de 
                 Guarajuba, a 
                 70 
                 quilômetros 
                 de Salvador, 
                 com um novo 
                 lote de 
                 fotos de 
                 crianças. No 
                 mesmo dia 
                 seus sites 
                 exibiam 
                 imagens de 
                 mais de 50 
                 meninas 
                 brasileiras, 
                 na série 
                 batizada de 
                 "Morena 
                 Park". Ele 
                 costuma 
                 fugir da 
                 discussão 
                 sobre 
                 pedofilia. 
                 "Se você 
                 fosse uma 
                 modelo 
                 infantil, ia 
                 querer que 
                 algum 
                 moralista 
                 rotulasse 
                 suas fotos 
                 de 
                 pornografia? 
                 Acho que 
                 não", disse 
                 Stanley a 
                 ÉPOCA, em 
                 entrevista 
                 por e-mail. 
                 "Todo mundo 
                 quer ser 
                 modelo. 
                 Posar para 
                 as fotos já 
                 é um fim em 
                 si, 
                 glamouroso, 
                 divertido." 
                 O fato de 
                 Stanley ter 
                 escolhido o 
                 Brasil para 
                 montar sua 
                 base é um 
                 alerta: caso 
                 não promova 
                 mudanças em 
                 sua 
                 legislação, 
                 o país pode 
                 tornar-se um 
                 dos centros 
                 mundiais de 
                 pedofilia na 
                 internet. 
                 Stanley 
                 provavelmente 
                 só será 
                 punido 
                 porque 
                 contra ele 
                 há um pedido 
                 de 
                 extradição 
                 do governo 
                 holandês, em 
                 análise no 
                 Supremo 
                 Tribunal 
                 Federal, em 
                 Brasília.
                 
                 COM ANDREI 
                 MEIRELES, DE 
                 BRASÍLIA