Parece                   conselho da                   vovó, mas,                   segundo os                   autores de                                                                        "Violência                   Urbana",                   não falar                   com                   estranhos e                   evitar andar                   sozinho em                   lugares                   desertos                   ainda são                   maneiras                   eficientes                   para não se                   tornar                   vítima de                   criminosos.                  
                                    Parte da                   coleção                                                      "Folha                   Explica",                   o livro                   apresenta o                   contexto em                   que os                   problemas                   sociais                   desta                   natureza                   surgem e                   como são                   mantidos,                   incluindo a                   responsabilidade                   histórica de                   uma longa                   tradição de                   práticas de                   autoritarismo.                  
                                    O texto foi                   escrito por                                                      Paulo Sérgio                   Pinheiro,                   cientista                   político que                   ocupou a                   posição de                   especialista                   independente                   para                   violência                   contra a                   criança da                   ONU                   (2003-2008),                   e por                   Guilherme                   Assis de                   Almeida,                   pesquisador                   do Núcleo de                   Estudos da                   Violência,                   da USP.                  
                                    No volume,                   os                   especialistas                   examinam o                   conceito de                   violência,                   as                   características                   das mazelas                   brasileiras                   e as                   perspectivas                   para a sua                   superação,                   mostrando as                   principais                   estratégias                   e vítimas.                  
                                    Com                   bibliografia                   básica e                   indicações                   de sites, o                   leitor                   poderá                   refletir e                   se                   aprofundar                   nas questões                   apresentadas,                   ponto                   importante                   para o                   fortalecimento                   da                   cidadania.                   Leia um                   trecho.                  
                                                      Atenção:
                   o texto                   reproduzido                   abaixo                   mantém a                   ortografia                   original do                   livro e não                   está                   atualizado                   de acordo                   com as                   regras do                   Novo Acordo                   Ortográfico.                   Conheça o                   livro                                                      "Escrevendo                   pela Nova                   Ortografia".                  
                                    De dia, ande                   na rua com                   cuidado,                   olhos bem                   abertos.                   Evite falar                   com                   estranhos. À                   noite, não                   saia para                   caminhar,                   principalmente                   se estiver                   sozinho e                   seu bairro                   for deserto.                   Quando                   estacionar,                   tranque bem                   as portas do                   carro e não                   se esqueça                   de levar o                   som consigo.                   De                   madrugada,                   não pare em                   sinal                   vermelho. Se                   for                   assaltado,                   não reaja                   --entregue                   tudo.                   
                                    É provável                   que você já                   esteja                   exausto de                   ler e ouvir                   várias                   dessas                   recomendações.                   Faz tempo                   que a idéia                   de integrar                   uma                   comunidade e                   sentir-se                   confiante e                   seguro por                   ser parte de                   um coletivo                   deixou de                   ser um                   sentimento                   comum aos                   habitantes                   das grandes                   cidades                   brasileiras.                   As noções de                   segurança e                   de vida                   comunitária                   foram                   substituídas                   pelo                   sentimento                   de                   insegurança                   e pelo                   isolamento                   que o medo                   impõe. O                   outro deixa                   de ser visto                   como                   parceiro ou                   parceira em                   potencial; o                   desconhecido                   é encarado                   como ameaça.                   O sentimento                   de                   insegurança                   transforma e                   desfigura a                   vida em                   nossas                   cidades. De                   lugares de                   encontro,                   troca,                   comunidade,                   participação                   coletiva, as                   moradias e                   os espaços                   públicos                   transformam-se                   em palco do                   horror, do                   pânico e do                   medo.                   
                                    A violência                   urbana                   subverte e                   desvirtua a                   função das                   cidades,                   drena                   recursos                   públicos já                   escassos,                   ceifa vidas                   --especialmente                   as dos                   jovens e dos                   mais                   pobres--,                   dilacera                   famílias,                   modificando                   nossas                   existências                   dramaticamente                   para pior.                   De                   potenciais                   cidadãos,                   passamos a                   ser                   consumidores                   do medo. O                   que fazer                   diante desse                   quadro de                   insegurança                   e pânico,                   denunciado                   diariamente                   pelos                   jornais e                   alardeado                   pela mídia                   eletrônica?                   Qual tarefa                   impõe-se aos                   cidadãos, na                   democracia e                   no Estado de                   direito?                  
                                    Hoje, a                   violência                   urbana não é                   uma                   preocupação                   exclusivamente                   brasileira,                   mas sim um                   tema que                   ocupa a vida                   pública de                   diversas                   outras                   sociedades,                   tanto nos                   países                   pobres como                   nos                   desenvolvidos.                   Na última                   eleição                   presidencial                   da França,                   em 2002, por                   exemplo, o                   tema                   contribuiu                   para levar                   ao segundo                   turno o                   candidato de                   extrema                   direita                   Jean-Marie                   Le Pen                   --afinal                   derrotado                   por Jacques                   Chirac,                   graças à                   mobilização                   de todas as                   forças                   democráticas.                  
                                    Nas páginas                   a seguir,                   não                   pretendemos                   oferecer                   respostas                   fáceis, nem                   imediatistas,                   pela simples                   razão de que                   não existem                   soluções                   mágicas,                   após décadas                   de atitudes                   negligentes                   e ineficazes                   da parte das                   autoridades                   públicas                   brasileiras,                   sobretudo no                   âmbito dos                   estados e                   das grandes                   cidades. Tal                   quadro                   possibilitou                   ao crime                   organizado                   impor seu                   terror,                   instalando-se                   nas                   comunidades                   populares e                   transformando-as                   em enclaves                   do                   não-estado                   de direito,                   muitas vezes                   graças à                   omissão ou                   até                   conivência                   das                   autoridades,                   tanto na                   ditadura                   como na                   democracia.                   O que                   fazemos aqui                   é mostrar a                   situação                   atual desse                   tema                   imprescindível                   e complexo,                   com                   referência                   especial ao                   Brasil.                  
 
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário